Muitas pessoas sofrem com o ronco, mas poucas sabem que, na maioria dos casos, um dentista pode ajudar a resolver o problema. Em palestra realizada na Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo (FO/USP), no fim de setembro, o professor Luiz Roberto Godolfim alerta que o ronco pode ser sintoma de doenças muito mais graves, entre elas a apneia do sono. Em casos extremos, o paciente pode chegar a ter um enfarto do miocárdio e até um AVC (Acidente Vascular Cerebral).
Membro da Sociedade Brasileira do Sono, Luiz explica que o dentista muitas vezes é o primeiro profissional da saúde a ter contato com o problema. “Muitos dormem na cadeira do consultório e não é porque confiam cegamente no nosso trabalho”, brinca. Quem sofre de apneia não tem uma boa noite de sono e acaba com sonolência durante o dia. Depois que o dentista identifica os sintomas, o paciente é encaminhado para comprovar a apneia através de exames, como a polissonografia.
A doença é caracterizada por repetidas paradas respiratórias. A pessoa tenta respirar, mas o ar não consegue passar. Com isso, o sistema nervoso envia um alerta que faz a pessoa acordar e retomar a respiração. A falta de oxigenação sanguínea pode levar a um enfarto e até a um AVC. O fenômeno acontece por conta do estreitamento da orofaringe, região que fica atrás da língua. O ronco é resultado da vibração produzida pelo ar que fica preso no local. E essas paradas acontecem com mais frequência do que imaginamos. Uma pessoa saudável pode ter até cinco paradas respiratórias por hora. Em casos de apneia mais graves, o paciente chega a ter mais de 30 paradas nesse mesmo período.
Grupos de risco
A apneia do sono pode ter várias causas. Uma delas é o avanço da idade. Com o passar dos anos a musculatura do pescoço fica mais flácida, favorecendo a obstrução do canal respiratório. As alterações hormonais da menopausa da mulher também influenciam na doença. Outro problema é o ganho de peso. O aumento de massa pode causar o estreitamento da região. “Não engordamos apenas para fora, para dentro também”, explica o professor. Além disso, pessoas com a mandíbula pequena tendem a ter mais dificuldades para respirar, justamente porque a língua ocupa mais espaço na boca.
Algumas mudanças de hábito podem melhorar a passagem do ar durante a noite. Luiz recomenda que as pessoas não durmam com a barriga para cima, pois a gravidade facilita o encontro das paredes da orofaringe, principalmente nas pessoas mais idosas. O professor também recomenda evitar o consumo de bebidas alcoólicas antes de dormir.
Alguns tratamentos
Depois de feitos os exames para diagnosticar a apneia e verificar o grau em que ela se encontra, é possível indicar o melhor tratamento para cada tipo de paciente. Em graus menos severos, o uso de aparelhos intraorais traz até 80% de resultados positivos. Eles podem ser usados como retentores de língua ou, em outros casos, para reposicionar a mandíbula. Ao fazê-la avançar, o espaço para a passagem do ar aumenta. A maioria chega à normalidade com o tratamento. Ocorre redução no índice de apneia e, consequentemente, a oxigenação sanguínea cresce. Também há melhoras na qualidade do sono, já que acordará menos vezes durante a noite.
Para casos mais graves ou que não apresentarem boa aceitação ao aparelho, são indicadas cirurgias para melhorar o padrão da face ou o uso do aparelho CPAP, sigla em inglês que significa “Pressão Positiva Contínua nas Vias Aéreas”. O aparelho envia colunas de ar de alta pressão que desobstruem as vias respiratórias do paciente. “O ronco é extremamente incomodo e é preciso tratar desse problema que atinge diretamente a qualidade de vida das pessoas” explica o professor.
Fonte: FOUSP