Engessado entre a recessão técnica e a inflação colada no teto da meta, de 6,5%, o Comitê de Política Monetária (Copom) deve manter a taxa Selic não apenas no encontro desta semana como até o fim de 2014. Além da tantas vezes manifestada fé do Banco Central (BC) nos efeitos defasados e cumulativos do aperto de 3,75 pontos percentuais entre abril de 2013 e fevereiro deste ano, que levou o juro básico para 11% ao ano, a proximidade da definição do ocupante do Palácio do Planalto em 2015 - e suas óbvias implicações para a condução da política monetária - sugere que não há espaço para uma mudança de rota.


Todos os 39 economistas ouvidos pelo Valor Data apostam em manutenção da Selic nesta semana. Desse elenco de profissionais, 36 descartam a possibilidade de alteração da taxa básica ainda neste ano. Um trabalha com corte, ao passo que dois veem alta.


Praticamente alinhados sobre os passos do Copom em 2014, os economistas tomam direções distintas quando o tema é o rumo da Selic em 2015. Turvam o horizonte da política monetária no ano que vem uma lista extensa de incertezas: o nível de reajuste dos preços administrados, o grau de intervenção no câmbio, a magnitude do superávit primário e os impactos da fraqueza da atividade sobre a inflação. E o desenlace dessas questões depende, em grande parte, do resultado da eleição presidencial


Os economistas se dividem, basicamente, entre duas alas: 17 trabalham com aperto monetário em 2015, ao passo que 12 veem Selic congelada em 11% até o fim do ano que vem. Entre os 10 restantes, quatro não têm previsão; três apostam em redução; dois veem queda ou estabilidade; e apenas um, o economista-chefe da LCA Consultores, Bráulio Borges, acredita em manutenção ou alta da taxa básica no ano que vem.


Para Borges, se o dólar caminhar para perto de R$ 2,50 até o fim deste ano, o Copom começa a apertar a política monetária já no início de 2015, levando a taxa básica até 12%. "Caso a depreciação do real seja mais moderada, para perto de 2,35, a Selic deverá ficar estável nos 11% atuais", afirma.


E o nível da taxa de câmbio depende, segundo Borges, em parte de quem será o presidente da República e da equipe de economistas que o acompanhará. Sinalizações sobre a política econômica, ressalta o economista-chefe da LCA, "poderão ter impacto relevante sobre a aversão ao risco e, consequentemente, sobre a cotação cambial, gerando cenários bem distintos para a política monetária".


Para Sérgio Vale, economista-chefe da MB Associados, o desenlace da eleição presidencial "muda radicalmente" a expectativa para a política monetária. "Com Dilma, permanece a ideia de maior preocupação com o crescimento do que com a inflação, o que é uma falsa questão. Provavelmente, a Selic terminaria 2015 a 9,75%", diz Vale.


Caso Marina Silva (PSB) seja eleita e leve ao Palácio do Planalto o grupo de economistas que a acompanha hoje, o BC, livre de "ingerência política", deve dar prioridade ao combate à inflação e pode elevar a Selic. "Isso é muito mais importante para o crescimento de longo prazo", diz Vale.


fonte: http://www.informabrasil.com.br/preview_news_integra.php?materia=1804828&identd=1039&idusri=6382