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O cirurgião-dentista Diego Wildberger se interessou por hipnose ainda durante a graduação, quando assistiu a uma palestra, com o objetivo de aprender técnicas para utilizar com amigos. Durante o evento, o profissional descobriu que a hipnoterapia poderia ser aplicada para tratamento de pacientes com ansiedade e até fobia da cadeira do dentista. Foi então que decidiu se especializar na área e, atualmente, é também hipnoterapeuta. Segundo estudo publicado na revista American Health Magazine, a hipnoterapia tem índices superiores na recuperação de pacientes, quando comparada a outras formas de terapia. Enquanto a psicanálise apresenta 38% de recuperação após 600 sessões, e a terapia comportamental, 72% após 22 sessões, a hipnoterapia leva a 93% de recuperação depois de apenas seis sessões. Para Wildberger, o resultado da pesquisa desenvolvida pelo psicólogo norte-americano Alfred A. Barrios se justifica pela ausência de consciência crítica durante o transe. "Quando a gente está em um estado alterado de consciência, com nosso crítico afastado, a gente aceita mais facilmente uma sugestão", afirmou em entrevista ao Bahia Notícias. "Nós afastamos o crítico e trabalhamos com sugestões direcionadas para o objetivo do paciente". Além de usada como tratamento, a hipnose também pode reduzir ou até substituir o uso de anestesia em procedimentos cirúrgicos. De acordo com o hipnoterapeuta, os médicos têm um pouco de resistência com a técnica, principalmente por acreditarem que é um processo mais demorado, enquanto o uso de substâncias anestésicas deixam o paciente desacordado rapidamente. Wildberger afirmou ainda que qualquer pessoa é passível de ser hipnotizada e esclareceu mitos ligados à técnica.  


Qual a formação necessária para ser um hipnólogo?

Eu sou dentista. Tanto o Conselho de Odontologia, quanto os de Medicina, Fisioterapia e Psicologia aprovam o uso da hipnose na profissão. É importante que tenhamos alguns cursos que abordem o que é hipnose, a base da hipnose, a ética no uso, quais são os benefícios que a gente pode levar para o paciente. Dentro disso, a gente encontra vários cursos. Claro que um curso só de final de semana, como existem vários, não vai capacitar ninguém para fazer isso. São necessárias algumas horas de formação. Como a gente não tem um conselho que regulamente no Brasil a quantidade de horas mínimas, o que eu falo para meus alunos é que a gente deve ter, no mínimo, 250 a 300 horas de curso para poder começar a praticar. Infelizmente, aqui no Brasil, não temos um órgão que regule isso. Existem alguns conselhos que regulamentam o uso da prática. Tem uma instituição no Rio de Janeiro, a Associação Brasileira de Hipnose Médica, que dá um curso de, se não me engano, 250 horas para que médicos, cientistas, fisioterapeutas possam se capacitar na área.

 

Quais são os principais benefícios do uso de hipnose na saúde?

A hipnose hoje é muito bem utilizada para controle da ansiedade, depressão; na área médica e odontológica, para controle de fobias, anestesias; em partos. Na França, já existem hospitais que estão substituindo o uso de anestésico geral pela hipnose. O doutor John Butler, da Inglaterra, é um médico que já vem substituindo a anestesia química pela hipnose. Ele mesmo se submeteu a uma cirurgia de hérnia umbilical com a auto hipnose. Tem ainda aumento de bem-estar, de autoestima. Em alguns casos, ajuda a pessoa a parar de fumar; controle de peso. Não que a hipnose vai ajudar a pessoa a perder peso, mas vai ajudar a encontrar novos posicionamentos, novas crenças, novos hábitos saudáveis para que a pessoa possa perder peso. Nem sempre é o uso da hipnose apenas, mas multidisciplinar. Nesse caso de controle de peso, por exemplo, há um nutricionista, um educador físico, um hipnoterapeuta e, às vezes, um psicólogo. Não adianta só perder peso, tem que mudar a forma que a pessoa pensa na comida. O cigarro é a mesma coisa, não é apenas parar de fumar. Existe uma dependência da química, uma dependência psicológica, um vício motor e tudo isso precisa ser trabalhado.

 

E como funciona o uso da hipnose para substituir a anestesia? A pessoa não sente dor?

Exatamente. Antes de fazer qualquer cirurgia com hipnose, a gente precisa fazer o que qualquer profissional da saúde faz que é uma entrevista clínica. Dentro dessa entrevista clínica, nós analisamos a velocidade que a pessoa entra em transe, a suscetibilidade que ela tem para entrar em transe... Porque todos nós somos hipnotizáveis. Quando a pessoa está dirigindo e começa a agir no automático, ela está em transe. A hipnose é uma coisa natural, inata. Nós fazemos isso diariamente dezenas de vezes. Se nós estamos ansiosos, não estamos no presente. Estamos em um transe, projetando alguma coisa no futuro. Na hipnose, a gente precisa avaliar a velocidade com que a pessoa entra em transe, condicionar ela durante algumas sessões para preparar para a cirurgia. E, realmente, as pessoas não sentem dor. No momento em que ela entra em transe, algumas áreas do cérebro que processam a dor são desligadas, e essa sensibilidade da dor também é eliminada. O cérebro passa a deixar de processar essas informações. É eliminada dor, porém não é eliminada a sensação de pressão, de toque, que já é uma outra via de processamento do cérebro.


Nesses casos, então, elimina-se o uso da anestesia?

Eu nunca elimino, mas pode-se eliminar. Por exemplo, nos cursos, quando a gente tem médicos e dentistas, nós promovemos uma anestesia e enfiamos uma agulha na mão da pessoa para mostrar que ela realmente não sente dor. A gente vê na expressão facial que ela não sente nada durante o transe. Em consultório, eu nunca elimino totalmente a anestesia, mas reduzo significativamente. Eu acredito que qualquer substância química que você faça uma pessoa ingerir, apesar de trazer benefícios, também traz malefícios. Tem muito paciente, por exemplo, que utiliza medicação para controlar a ansiedade. Eu já tenho pacientes que deixaram de tomar medicações que vinham tomando há sete anos para controle de ansiedade. A partir do momento que a gente aprende a lidar com isso, a gente passa a ter um melhor controle da vida. É importante ressaltar que a hipnose não cura nada, ela dá controle, alivia os sintomas. Por exemplo, no caso do dentista: o paciente tem cárie e, com a hipnose, a gente consegue aliviar a dor dele, mas não consegue tiara a cárie. A hipnose ajuda o paciente a ter melhor controle sobre suas emoções, comportamentos, pensamentos para que ela possa levar uma vida mais tranquila terapeuticamente falando. Na odontologia, eu uso muito para tratar pacientes fóbicos. Isso foi o que me fez buscar a hipnose. Quando estava ainda estudando, na faculdade, assisti a uma palestra sobre hipnose, porque sempre tive curiosidade de saber como é que isso funciona. Eu achava aquilo legal para fazer com meus colegas. Só que, na palestra, eu percebi uma outra vertente da hipnose, que é a hipnose clínica. Tem tanta gente com medo de dentista. Por que não utilizar a hipnose para ajudar pessoas que querem um tratamento odontológico, mas têm medo ou ansiedade? Eu comecei a estudar para ajudar essas pessoas. Eu utilizo muito para controle do medo, de ansiedade, para ressignificar traumas do passado. A anestesia é o mínimo. Se um paciente tem alergia a anestésico, é feita a hipnose para reduzir o uso da anestesia.

 

Há alguma contraindicação ou risco?

Não. Se existisse contraindicação, a gente não faria isso diariamente. O que acontece é que um profissional mal habilitado pode atrapalhar mais do que ajudar. Por exemplo, com pacientes esquizofrênicos: por não ser psicólogo, não posso atender esse paciente sem o acompanhamento de um psicólogo ou psiquiatra, porque durante o processo de hipnose o paciente pode ter um surto. O esquizofrênico já vive em um estado alterado de consciência. No processo de hipnose, o esquizofrênico pode tomar algo como verdade e ter um surto.

 

Durante uma cirurgia, a pessoa que está sob efeito de hipnose sente como se estivesse dormindo?

Não, isso é um conceito antigo e errôneo que a gente tem da hipnose. Isso aconteceu porque Braid [James Braid, médico cirurgião escocês] por observar efeitos similares ao sono deu o nome de “hipnose” em homenagem ao deus grego do sono, Hipnos. Depois se percebeu que o transe, por ser um estado inato, não tem nada a ver com o sono. O estado de hipnose, na verdade, fica entre o estado da vigília – que nós estamos agora – e o sono. Alguns autores dizem que é um estado alterado de consciência, outros que é um estado ampliado de consciência, mas todos querem dizer a mesma coisa. A pessoa também não fica inconsciente, que é outro mito que existe. Ninguém fica surdo. A gente pode desligar todos os sentidos de uma pessoa por meio de relaxamento, menos a audição. Há artigos atuais que afirmam que, mesmo sob anestesia geral, algumas pessoas conseguem escutar a conversa de médicos no centro cirúrgico, então não dá para desligar. Teve um caso muito interessante com relação a isso nos Estados Unidos. A paciente estava no centro cirúrgico, completamente inconsciente sob anestesia geral, para retirada de um apêndice. Durante o procedimento, o médico falou “depois da retirada desse apêndice, ela nunca mais será a mesma”. Mas isso pode ser interpretado de forma boa e ruim. Ela interpretou de forma ruim e, depois da cirurgia, somatizou uma dor que passou a sentir sempre. Foi feita uma regressão com hipnose até o momento da cirurgia, foi identificado tudo que aconteceu, e essa fala foi ressignificada para uma conotação positiva. Quando regressou da hipnose, aquela dor havia sumido. Há um terceiro mito ainda que quem pratica hipnose tem poder sobre o outro. Não é verdade, nós só dominamos técnicas. É apenas como se o paciente entrasse em contato com seu sexto sentido. Nós temos a consciência, que julga. No transe, essa crítica está afastada, então o que vier a gente aceita.


Como funciona essa questão da susceptibilidade das pessoas? É possível perceber facilmente quem é susceptível e quem não é?

Se a gente colocar uma pessoa em um tomógrafo, vai identificar que as pessoas que têm um corpo caloso maior – é como se fosse uma estrutura óssea que liga os dois hemisférios do cérebro, o direito e o esquerdo – tendem a entrar mais facilmente em transe, porque têm mais conexões. As pessoas que trabalham mais com o lado direito do cérebro, que é o nosso lado lúdico, criativo, tendem a entrar mais facilmente em transe. Já os que trabalham muito com o lado esquerdo, que são os analíticos, entram em hipnose, mas levam um pouco mais de tempo por estarem tentando o tempo todo entender como aquilo funciona. A gente avalia com exercícios criativos, de imaginação. O planejamento é feito de forma individual a partir daí.

 

Já aconteceu de o senhor estar realizando uma cirurgia, e o paciente acordar?

Não, comigo nunca aconteceu. É importante preparar o paciente para isso, trabalhar as expectativas, porque a expectativa pode ser tão alta que ele abra o olho e diga “não estou hipnotizado”. No entanto, se a gente olhar em um tomógrafo, ele está em estado de transe.

 

Há resultados diferentes entre psicanálise, terapia comportamental e muito superior com a hipnoterapia. Por que é considerado tão superior?

Porque quando a gente está em um estado alterado de consciência, com nosso crítico afastado, a gente aceita mais facilmente uma sugestão. Quando a gente está mais emotivo, a emoção supera a razão. Por exemplo, quando você está querendo comprar algo e um vendedor lhe convence, afeta de uma forma sua emoção que você não racionaliza e compra. Na hipnoterapia é a mesma coisa. Nós afastamos o crítico e trabalhamos com sugestões direcionadas para o objetivo do paciente.

 

Como funciona a auto hipnose?

Funciona da mesma forma que a hipnose. Na verdade, toda hipnose é uma auto hipnose. Para que a terapia possa acontecer, ou uma cirurgia, a pessoa precisa se permitir entrar no processo de hipnose. Como já acontece diariamente, dezenas de vezes por dia, como algo natural, por que não criar alterações para o que desejamos? Por exemplo, aquela pessoa que acorda de manhã e diz “nossa, meu dia vai ser um saco”. Nesse momento, ela não está racional e está se dando autossugestões de como vai ser o dia, e ele acaba daquele jeito. Se ela sugere que o dia vai ser bom, ela já encara isso de outra forma. A gente consegue usar a auto hipnose para se auto motivar, mudar o estado emocional... É necessário a pessoa se permitir participar do processo. Quando a gente cria uma situação e acredita naquilo, o cérebro da gente não sabe identificar se é verdade ou mentira. Quando a gente cria uma sugestão negativa, o cérebro acredita naquilo. Por que não fazer o contrário? Quando a gente cria um “se”, o cérebro entra em looping com imagens que fortalecem cada vez mais aquilo que você está criando e surge a ansiedade e o medo. Então é necessário alterar isso. Todo processo de hipnose é uma auto hipnose, porque a pessoa precisa se permitir.


Fonte: http://www.bahianoticias.com.br/saude/entrevista/359-hipnoterapeuta-esclarece-mitos-sobre-pratica-que-pode-substituir-anestesia-em-cirurgias.html